- Crica
- Bezerra
“O SELO SEBRAE É UMA AUDITORIA, ALTAMENTE QUALIFICADA, DOS NOSSOS NEGÓCIOS.”
Restaurante Italiano, Cabaña Del Primo e Misaki e o Jardim Open Mall
Há três décadas no segmento de gastronomia, Crica Bezerra de Menezes é um empresário cuja trajetória vem inspirando a muitos. Líder resiliente e visionário, desde 2018 transferiu aos filhos a condução dos negócios que hoje contam com cinco restaurantes com oferta diversificada (Restaurante Italiano, Cabaña Del Primo e Misaki) e o Jardim Open Mall. Ainda assim, Crica segue atuante como uma referência e como o semeador da cultura institucional e, nesta entrevista, nos brinda com um pouco de sua história e destaca uma presença constante em toda a construção desse sucesso: o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – Sebrae-Ce.
Na vontade de servir. Eu sempre tive muito prazer em aprender e em transmitir esse aprendizado. Mas a vontade mesmo de empreender nasceu na infância. Sou o sexto numa família com oito filhos. Minha mãe, D. Edite, era a mais inquieta entre todos nós. Porém, todos fomos educados para sermos empregados. O sonho do meu pai era que eu fosse um funcionário do Banco do Brasil. Era o sonho de muitos àquela época. E eu não tinha essa vontade. Fui trabalhar, comecei cedo dando expediente num banco. Mas eu já refletia: “Rapaz, não é possível que não saia ninguém dessa família com um negócio”. Foi isso o que me inquietou e acabei passando isso para o meu irmão mais novo e para minha irmã, Fátima Castro, que atua na alta costura e com quem eu trabalhei um tempo também.
Não. Privilegiada, não. Acho, sim, uma visão que resulta de uma vida cheia de percalços. Essa inquietude vem daí.Eu sempre fui curioso e logo eu entendi que problema, quando surge, é para ser resolvido. Na grande maioria dos problemas estão as oportunidades. Quando algo nos incomoda, se encontramos a solução, isso passa a ser uma oportunidade. Aprendi isso até com minha mãe. Um fato curioso: comecei a trabalhar com 14 anos, numa cooperativa de crédito no Centro de Fortaleza. Quando saiu o meu o primeiro salário, cheguei em casa todo feliz e disse: “Mamãe, hoje recebi o meu primeiro salário.” Ela respondeu feliz: “Ai, que bom filho! Parabéns! Olha, eu tenho um negócio aqui para você.” Ela entrou em casa e voltou com um papel. Eu fiquei curioso pra saber o que ela ia me dar, se seria algum incentivo. Ela me entregou a conta de luz.”Daqui pra frente você vai ficar pagando a energia de casa.” Naquela ocasião, eu não entendi, mas tinha de aceitar e passei a ser o maior controlador de energia elétrica da residência. Com o tempo eu percebi aquela lição arretada.Um aprendizado pra vida. A primeira recompensa de meu primeiro salário: o comprometimento, a responsabilidade.
Com certeza. A família é tudo. Sou uma adepto do reconhecimento da grande importância da família. Às sextas-feiras é o dia de me reunir com a família, já passando para os netos o que sei. Aprendi com minha mãe que a gente conquista a família pela boca. Minha mãe, com uma ruma de filhos e vendo cada um num rumo diferente, inventava o café da manhã de domingo, fazendo o gosto de cada um. A gente ia pra lá e se reunia em rono da mesa. Minha mulher outro dia comentava: “Eu não esqueço nunca a Dona Edite colocando a mesa com uns bolos bonitos quando eu falei para a Léia (a concunhada) – Que bolo maravilhoso! Estou doida pra comer desse bolo.” Dona Edite ouviu e logo atalhou: “É, tudo bem. Mas primeiro os meus filhos.” Ela havia instituído uma hierarquia em torno dessa estratégia para reunir a família. Aí quando a gente enjoava o café, ela inventava um almoço, um jantar… Aprendi isso com ela e, hoje, a minha casa é o ponto de encontro da família. Eu invento um churrasco, um caranguejo, camarão.. Também, com os restaurantes, facilita a gente fazer o almoço da família às sextas-feiras.
Eu fiz faculdade mas não houve a aplicação prática. Eu incentivo todo mundo a fazer uma faculdade no sentido de abrir a mente para ver o quanto você não sabe nada, o quanto precisa aprender. Então eu voltei a estudar aos cinquenta e poucos anos porque a minha vida empresarial durante vinte e tantos anos havia sido em cima de um país inflacionado. Você não precisava saber de muita coisa. Você precisava saber comprar e saber vender. O ideal era você estocar porque seu estoque estava sempre se valorizando. Depois que o Plano Real chegou e veio acompanhado de uma outra inovação, que foi a informática, a tecnologia avançando, foi uma revolução. Nessa época muita gente quebrou porque não sabia trabalhar com a moeda estabilizada e os novos processos de trabalho impactados pela informática.Ora, antes a gente tinha um resultado de um balanço três meses depois, porque era tudo feito à base da maquininha, na mão…O que me interessava saber em julho que em março eu havia tido prejuízo? Do ocorrido até a informação do resultado já se passaram três meses.. Era descompassado. Nessa época eu disse: eu tenho de me renovar. Eu tenho de aprender se nao eu vou ficar pelo caminho também. Aí fiz um MBA do IPAM – Instituto Português de Administração e Marketing que foi promovido pelo SEBRAE-CE. Todos os professores eram europeus. Apenas um, de matemática financeira, era brasileiro. Esse MBA me trouxe um aprendizado incrível. Foi um divisor de águas.
O Sebrae entrou na minha vida com o Luciano Moreno. Ainda era CEAG (Centro de Assistência Gerencial do Estado do Ceará), eu acho. Eu já havia entrado em dois negócios que tinham ido para o beleléu por causa da inflação. O Ministro Delfim Neto (Economia) entrou com a maxidesvalorização da moeda com 30% de desvalorização. Naquela época, todo mundo só pegava empréstimo baseado em dólar. Da noite pro dia, o governo estabeleceu que o dólar valeria 30% a menos. Ou seja: todas as suas dívidas aumentaram em 30% e toda a sua poupança foi reduzida em 30%. Depois, passados alguns anos, teve outra desvalorização. Em cada uma delas eu quebrei. Eu fiquei zerado, praticamente. Fechei os negócios e, o que eu iria fazer? Fiquei feito uma barata tonta e tive a ideia de ir trabalhar com minha irmã, Fátima Castro, que tinha um pequeno ateliê de costura. Como eu já tinha trabalhado na Singer industrial eu fui vender pra ela a ideia de transformar o seu ateliê numa pequena fábrica. Ela gostou mas impôs uma condição: de eu ser sócio. Casou com o que eu queria. Nos associamos. Eu só tinha a cabeça. Não tinha dinheiro. Então procurei o CEAG e conheci o Luciano Moreno, de saudosa memória. Eu disse que queria comprar umas maquinas para dar início à fábrica e ele me apresentou uma linha de financiamento que nos viabilizou as primeira cinco máquinas. A partir daí, não acabou mais esse meu namoro com o Sebrae.
Quando houve a transformação de CEAG em Sebrae, ele começou a promover treinamentos, a levar conhecimento e eu comecei a beber dessa água. Tudo que o Sebrae-CE ofertava eu estava dentro. Uma coisa aqui, uma coisa acolá… Foi daí que eu percebi a necessidade de voltar à escola mesmo. Fiz o MBA que mudou minha visão. A partir daquele momento eu entendi como deveria ser administrado o negócio numa economia estabilizada. Ali, me renovei e meus negócios começaram a dar certo, com maturidade e conhecimento mais profundo, com domínio dos números, o que me ajudou tremendamente.
Essa diversificação veio em função de eu perceber que estava fazendo a coisa errada. Eu trabalhava só com pizza. Mas pizza só vende à noite e você paga seus custos o dia todo, vinte e quatro horas. No almoço eu não tinha nenhum faturamento. Então, eu transformei a pizzaria em um restaurante italiano, que é o caso do Geppo`s. Isso foi bem depois. Eu estava com sete pizzarias e eu não sabia onde ganhava, onde eu perdia. Com a chegada da informática deu para você acompanhar as operações.
O diferencial nasce do desejo de fazer as pessoas felizes e no fazer aquilo que você gosta. Eu lembro de uma época de sufoco, no final do século passado,quan eu não sabia o que fazer. Eu resolvi parar. Tirei uma semana para refletir. “Se eu fosse começar hoje, com a experiência que eu tenho de vida, qual negócio colocaria?” Após uma semana me veio a resposta: “Eu colocaria um restaurante”. Estava no ramo certo, é o que eu gosto. Em seguida: *E seu fosse fazer hoje, começaria com as sete pizzarias que eu tenho?” Depois de dois dias veio a resposta: *Não. Ficaria com apenas duas .São as duas que tenho até hoje. Quando você descobre qual o problema, já resolveu a metade da questão. A outra metade é planejar e executar bem. Aí, planejei não fechar, sim, desativar. E aos poucos fui redirecionando as energias. Eu lembro que no balanço do final de ano eu tive prejuízo de três por cento, Demorou três anos. Não dava para fazer de uma vez. Nós temos duas contas aqui em nosso negócio que são responsáveis por oitenta por cento dos gastos. O primeiro lugar e maior é o gasto com pessoal. Em segundo, com insumos. Nossos restaurantes são a la carte, exigem muita mão de obra. Isso é uma escolha, um diferencial nosso.
“Quando você descobre qual o problema, já resolveu a metade da questão. A outra metade é planejar e executar bem.”
Ser chato. Eu acho que a gente tem de ser exigente. As pessoas chamam isso de ser chato. Eu perdoo. Sou uma pessoa que tem um coração igual a uma mãe para perdoar. Mas eu perdoo a primeira vez. Uma a segunda vez, se for diferente o erro. Mas da terceira, vamos procurar outros caminhos pois não temos mais condições de continuar juntos. E eu digo assim: JC não conseguiu agradar todo mundo, não serei eu que vou conseguir.
É fundamental conhecer gente. Ainda hoje – em 2018 eu transferi as ações para meus filhos que estão à frente hoje – quando vamos contratar de gerente pra cima, eu estou presente , pois o feeling só se consegue com a experiência e isso leva tempo. A escola da vida que ensina.
É você fazer o cliente feliz.O meu foco é na pessoa, no cliente. E a gente precisa ter o raciocínio correto. Não sou eu que atendo os clientes. Quem tem o contato direto são outras pessoas. Eu percebo que pra eu fazer o cliente feliz, essas pessoas precisam estar felizes antes. A faxineira precisa estar feliz, a cozinheira precisa estar feliz. Então eu trabalho a equipe porque eu sei que é através dela que vou realizar o meu sonho. É um processo.
Eu aperfeiçoaria. Eu acho que eu seria menos impulsivo. Planejaria melhor, ouviria mais. Porém, continuaria no mesmo ramo, onde me sinto muito bem, principalmente quando eu vejo que as pessoas saem felizes. Um momento muito importante da nossa vida é o momento da refeição. É muito agregador. E isso é muito bacana. Eu gosto demais disso.
É que a gente não pode se acomodar. Isso é como andar de bicicleta: parou, morreu. É um processo dinâmico. Se as pessoas todas soubessem da importância deste selo, elas todas o abraçariam. O Selo é uma auditoria altamente qualificada de meus negócios, realizada pelo Sebrae com um investimento muito pequeno de nossa parte. Eu, aqui, tenho uma profissional, cuja função é garantir a obtenção anual do Selo Sebrae. O Selo é uma consultoria que se renova e nos desafia a cada ano, nos qualifica para os novos desafios e aumenta nossa competitividade. Apenas acho que o Sebrae-CE precisa fazer o selo mais conhecido pela população, pelo consumidor. Tirando isso, só tenho elogios.
“O Selo é uma consultoria que se renova e nos desafia a cada ano, nos qualifica para os novos desafios e aumenta nossa competitividade.”
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